O ciclo de contato

Olá Pessoal, tudo bem com vocês, desculpa minha ausência, mas estava nestes últimos meses envolvida com o curso de “Gestalt terapia na Prática” aqui da Academia do Psicólogo, foi maravilhosa e enriquecedora a experiência, mais do que ensinar, revi muito conteúdo da GT e aprendi muito com o grupo!

Hoje irei escrever sobre o Ciclo do Contato, este tema também trabalhei lá no nosso curso, então vocês terão uma palhinha de alguns parágrafos que eu trouxe para cá!

O que é o Ciclo de Contato


Figura 1: Ciclo do contato Zinker

Essa figura representa o ciclo do contato, lembrando que existem diferentes leituras e etapas, o modelo trazido na imagem foi proposto por Zinker.

O ciclo de contato também pode ser chamado de ciclo de auto regulação, ciclo de experiência, ciclo de satisfação das necessidades, ciclo de Gestalt, já que diferentes autores denominam e descrevem de forma distinta o processo de contato eu-mundo.

O ciclo do contato foi uma maneira didática que os autores encontraram para explicar a forma de como as pessoas fazem contato, produzindo, vivendo se expressando e algumas vezes também bloqueando sua relação com o outro e com o mundo. Todo contato tem ciclos, assim como tudo na vida é cíclico: as estações do ano, as etapas da vida, o sono, a digestão, a ovulação, etc. Toda experiência também é cíclica: ela inicia, se desdobra, e acaba (Ginger, 2007, p.61).

Neste ciclo de experiências ou ciclo do contato, a todo o momento emerge primeiro uma figura e depois um fundo.

Como o Ciclo de Contato aparece na prática clínica


Clientes que vivem em grande conflito (ou duelo) dentro de si mesmo, geralmente tem uma fala desconexa, ou não conseguem perceber situações óbvias a sua frente.

No meu consultório quando meu cliente chega contando um caso desconexo, ou com dificuldades de entender algumas ocorrências das quais ele se envolveu, percebo que é um momento onde a teoria do ciclo de contato pode nos ajudar no setting terapêutico, “ensinando” o cliente a restabelecer o seu ciclo de forma saudável e fluente.

Esse já é um primeiro passo para possíveis intervenções.

Um caso, para exemplificar:

Um cliente chega com a queixa de que não consegue se concentrar nas tarefas que ele tem naquele dia. Ao investigar um pouco mais sobre como anda sua vida, ele relata que vem tendo discussões frequentes com sua mãe.

Podemos pedir que entre em contato com as sensações que ele sente no corpo ao pensar nestas discussões. Se ao entrar em contato ele descreve um sentimento de raiva, peço que entre em contato com a raiva, e então, ele me diz sentir-se injustiçado e com muita mágoa por estar sempre sendo criticado por ela.

Pergunto se algum dia já compartilhou esse sentimento com ela. Ele afirma que não. Ao avaliar qual a necessidade dele naquele momento, ele fala em poder colocar esta raiva (mágoa) para fora.

Neste caso, proponho um exercício de cadeira vazia (onde ele irá manter um diálogo com a mãe) ou até mesmo de colocar esta raiva para fora “socando” uma almofada.

Peço para ele entrar em contato novamente em como se sente depois da experiência. Ele diz se sentir aliviado (retração), depois peço para que volte a pensar nas tarefas que ele precisa concluir naquele dia e como se sente perante a elas. Ele relata que consegue pensar nelas de forma mais clara e que está mais atento.

Perls (2012, p.31), escreveu que “ninguém é autossuficiente; o indivíduo só pode existir num campo circundante”, e que o desenvolvimento e o funcionamento saudável do ser humano dependiam essencialmente da qualidade da relação ou do contato que estabelecemos.

A partir do momento em que a pessoa está aberta, fluida para novos contatos ela sente, ou tem a percepção corporal de alguma necessidade, ao mesmo tempo em se conscientiza dessa necessidade.

A partir daí pode é possível mobilizar-se para atender essa necessidade e, com isso, surge uma ação proveniente dessa mobilização e, ainda, uma interação que essa ação provoca.

Novamente ela entra em um contato final movido pela necessidade e, com o fechamento proveniente desse contato final, ele(ela) pode, por fim,  fazer a  retirada para que um novo ciclo se inicie, num processo ao longo de toda a vida.

Figura e Fundo no Ciclo de Contato


Por exemplo, você está lendo esse texto neste exato momento. Ele é a figura. Mas a figura não é tudo.

Talvez, estudar para uma prova que irá acontecer amanhã, ou a louça para lavar na pia, ou qualquer outra coisa que esteja acontecendo neste momento de forma concreta ou abstrata (pensamentos) seria fundo.

Essa é a alternância figura e fundo que acontece a toda hora em nossas vidas.

O ciclo começa a ocorrer, a partir do momento que eu escolho uma figura, que seriam as nossas necessidades de contato: quero dar continuidade na leitura, vou ler cada linha, estou com sede, vou tomar água, estou atrasado para a aula, corro para me arrumar, e assim por diante.

A cada demanda, se inicia então todo um movimento, que levará ao que chamamos de ciclo do contato, e a cada ciclo que se fecha a gente se prepara para um novo ciclo.

Voltando ao exemplo do cliente, precisamos explorar ao máximo como ele entra em contato com aquilo que é figura e fundo em sua vida, como ele percebe “o que é” figura, e “o que é” fundo, e “como” ele se relaciona com elas.

O ciclo do contato é também chamado de ciclo das necessidades satisfeitas, o homem saudável identifica a necessidade do momento, faz escolhas, adapta-se para o fluxo constante de “Gestalts” segue fazendo contatos inteiros, procurando o equilíbrio.

Segundo Ginger (2007), a GT levando em conta este funcionamento do ser humano (busca da realização das necessidades), propôs dividir em fases esse ciclo do contato.

A Primeira divisão foi feita por Perls e Goodman onde cada experiência tinha quatro tempos principais ajustados em torno da noção de contato: o pré-contato, a tomada de contato, o pleno contato e o pós-contato.

Porém, eu considero uma excelente divisão, o ciclo de contato criado por Joseph Zinker (1975), a primeira imagem que está no texto, que se distingue em seis fases: a sensação, a tomada de consciência (ou awareness), a mobilização de energia, a ação,o contato e o recuo(retração).

Existe uma outra imagem, que Jennifer Mackewn (1997) desenvolveu a partir do ciclo de contato de Zinker, onde ela acrescenta integração e assimilação


Figura 2: Ciclo do contato Zinker com adaptação de Mackewn

Pensar nos ciclos de contato, na prática, é pensar primeiro em figuras que se formam ou necessidades que serão satisfeitas ou não, a cada momento.

E por hoje ficamos com isso, nosso próximo artigo trará as Interrupções do Ciclo de contato. Espero que tenham gostado do material, e aguarde também em breve o vídeo que gravarei falando sobre minhas recomendações bibliográficas.

Referências:

GINGER, Serge. Gestalt a arte do contato. Petrópolis: Vozes, 2007.

PERLS, F. A abordagem Gestáltica e testemunha ocular da terapia. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

ZINKER, Joseph. O processo criativo em Gestalt terapia. 2.ed.São Paulo: Summus, 2007.

Autor Simone Dreher

Simone Dreher

@simonedreher

Psicóloga, Mestra em educação com 21 anos de atuação em clínica e desenvolvimento de pessoas. Palestrante e Professora. Idealizadora da fanpage: Mulher de potencial. Duas formações em Gestalt terapia e neste canal ela vai contar o que aprendeu e como a Gestalt transformou sua atuação no consultório e o seu jeito de ver e viver a vida.

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