O Surgimento da Terapia Sistêmica de Família e Casal

Para entendermos sobre terapia de casal, é importante falarmos um pouco sobre como tudo começou.

Você vai verificar que, apesar do canal ser sobre terapia de casal, contarei como iniciou a terapia sistêmica de família, pois tanto a terapia de família quanto de casal possuem a mesma base e os mesmos elementos, pois ambas focam no mesmo conceito principal: a relação.

Portanto, todos os conceitos aqui citados para terapia de família são válidos para o trabalho com casais.

O Começo Improvável


A terapia sistêmica de família surgiu a partir de uma famosa pesquisa de Gregory Bateson e sua equipe, iniciada em 1952, sobre a comunicação do esquizofrênico.

Ele acreditava que a comunicação aparentemente “sem sentido” do esquizofrênico, era fruto de aprendizagem e adquiria sentido se fosse situada no contexto no qual ele aprendia a se comunicar.

Como a família era considerada o principal contexto inicial de aprendizagem, eles começaram a observar os esquizofrênicos com as suas famílias.

Assim, acreditavam que o comportamento do paciente era adaptativo e revelava uma dificuldade de discriminação entre os níveis de comunicação, como o literal e o metafórico.

Essa pesquisa mudou a forma como os profissionais viam o tratamento da esquizofrenia e resultou na construção do conceito de “duplo vínculo”, que é “um padrão de comunicação repetitivo, que contém injunções contraditórias em diferentes níveis de comunicação e que, juntamente com uma impossibilidade do paciente de abandonar o campo relacional, estaria na base do surgimento dos sintomas esquizofrênicos.” (Rapizo, 2002)

Além disso, essa pesquisa trouxe novos subsídios para a visão de família como sendo um sistema, com características próprias, em que todas as partes estão interligadas e se influenciam.

Uma das observações que corrobora com essa ideia é que quando o paciente identificado melhorava, um outro membro da família adoecia. Bateson também percebeu que a família encorajava e parecia necessitar que o paciente demonstrasse esse tipo de comportamento.

Homeostase Humana


Essas observações confirmam a ideia da existência de um padrão estabelecido no funcionamento familiar. Se acontece um desvio desse padrão, como por exemplo, a melhora do paciente identificado, o sistema (ou seja, a família) realiza mudanças adaptativas para manter o seu funcionamento sem mudanças significativas em seu padrão de relacionamento.

Dessa forma, qualquer movimento de um dos membros da família que fosse diferente do comum e ameaçasse o padrão da relação era minimizado, desqualificado ou compensado por outro membro do sistema. Por isso, quando o paciente melhorava, um outro membro da família adoecia. Assim, o sistema tende a manter a homeostase.

“O conceito de homeostase familiar nasceu de se observar que os esforços psicoterapêuticos com um membro de uma família podiam ser impedidos pelo comportamento de outros membros, ou que outros membros poderiam tornar-se perturbados, na medida em que o membro em tratamento melhorasse… Isso sugeria que família é algo como um sistema num estado estável, dinâmico. As características de seus membros e a natureza de sua interação, incluindo qualquer paciente identificado e seu comportamento doente são para manter um status quo, como se fosse típico daquela família e para reagir em direção a esta status quo, sempre que haja mudança, tal como aquela proposta pelo tratamento de seus membros.” (Jackson e Weakland, 1961)

Esse conceito é um dos fundamentais do primeiro movimento de terapia sistêmica de família e é visto como:

  • modo de funcionamento do sistema (o sistema tende a funcionar de forma homeostática)
  • objetivo que o sistema busca alcançar (o objetivo da família é a homeostase)
  • resistência à mudança (é importante resistir à mudança para manter a homeostase)

Com isso, os sintomas são vistos como resposta a uma ameaça ao equilíbrio do sistema, ou seja, a homeostase. O que importa sobre o sintoma é a sua função sobre a família e não o sintoma em si. Ou seja, não era o comportamento que importava e sim o padrão que ele ajudava a manter.

Dentro desse modelo, o papel do terapeuta era:

  • entender os padrões de funcionamento da família, que mantinham o sintoma e, consequentemente, o padrão negativo de homeostase,
  • identificar comportamentos recorrentes, que deviam ser interrompidos ou alterados,
  • utilizar técnicas para tirar a família da homeostase e induzir uma crise para que a família se reorganizasse mais funcionalmente sem a necessidade do sintoma.

Essa visão dominou o campo da terapia de família até meados dos anos 70. Com isso, se tornou importante desenvolver novas técnicas para manter e legitimar o sucesso inicial da terapia de família.

A partir dessas novas ideias foi inaugurado o que hoje conhecemos como Terapia Sistêmica de Família.

E na prática da terapia de casal? Como funciona?
No próximo vídeo, abordarei esse assunto utilizando os conceitos aqui citados.

Autor Renata Azevedo

Renata Azevedo

@renataazevedo

Renata de Azevedo é psicóloga, especialista em Terapia de Família e Casal, pela UFRJ. Possui formação em Análise Transacional e é coautora do livro “A Arte da Guerra”, da ed. SerMais. Acredita no amor e nos relacionamentos duradouros, saudáveis e felizes. Ama ajudar as pessoas a melhorarem os seus relacionamentos. Antigamente, detestava falar em público, mas hoje é uma das coisas que mais gosta de fazer.

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